Brota um raio de sol do meu baú

O baú é uma arca de tesouros, não somente ouro. É, porém, onde desencantamos os momentos mais contraditórios que se possam escrever nas páginas da nossa efémera e redundante passagem pelas águas do tudo e do nada. Uns procuram memórias e com elas conforto, outros encontram, por oposição, amargura e desilusão. As escolhas que fazemos constroem as ações que realizamos e os feitos que perduram. Das memórias só quero o tempo que com elas veio, para me darem, parte do que me retiraram, retiram e retirarão: um coração desfeito de um preenchimento pleno.

Se me sinto incompleta, com as recordações, ouço novamente a palavra respirar e sinto o que mais ninguém vê na palavra amar. Contudo, das memórias ficam também nuvens que se ausentam no caminho de terra a percorrer. Espero um raio de sol que, penetrando a névoa do presente e futuro, liberte a imensidão de vivacidade que por aqui existe. No meu baú brota um raio de sol, no meu coração um pedaço de girassol,

que gira

gira

gira

até o amanhecer se tornar em anoitecer

Aqui, o sol desaba, o baú fecha-se e os passos lentos e vagarosos param.

É o final de uma história de descoberta.