Dia da mulher ✨
- BrunaSanta
- 8 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de mai. de 2022
Apresentação da obra “Inês da Minha Alma”, de Isabel Allende
Esta é uma obra que transborda cultura. Isabel Allende, tal como a própria afirmou nas primeiras páginas, limitou-se, a partir dos relatos e obras históricas deixadas sobre a fundação do reino do Chile, a conectar a realidade com a ficção e a deixar transparecer todos os costumes e hábitos da época, fossem exímios ou degradantes e vergonhosos.
Efetivamente, consegue clarificar com mestria todas as verdades menos fascinantes das conquistas do “Novo Mundo” através de um relato na primeira pessoa, por meio de Inés Suaréz, uma das protagonistas da Conquista do Chile que, apesar de ter contribuído do mesmo modo ou até muito mais que alguns homens que também o fizeram, foi ignorada durante 400 anos em todas as crónicas realizadas sobre aqueles acontecimentos. Estas ações, por parte de célebres cronistas da altura, demonstram, em parte, alguns dos inconvenientes de ser mulher na época e da relevância que era dada ao homem soldado, cristão, galante e dominante.
Nesta obra é questionado esse pedestal no qual permaneceram durante muitos anos.
A objetificação da mulher é um assunto transversal, bem como a ganância e a ambição desmesuradas, intimamente ligadas à corrupção, sem esquecer a necessidade constante de controlar, de poder, sem considerar consequências desumanas. A religião era também um motivo de descoberta e de tentativa de imposição, que muitas das vezes, senão todas, viria a originar vítimas inocentes e vidas perdidas. Ainda hoje são visíveis as consequências da permanência de todos estes fatores bastante enraizados.
Prezo o poder da palavra que esta escritora possui, a qual desde muito cedo se interessou por assuntos desta índole. O facto de ter acrescentado referências bibliográficas para demonstrar efetivamente se tratava de factos históricos foi o que mitigou a linha ténue que poderia existir entre a realidade e a mera ficção.
Inicialmente, descreve-nos Inés como uma jovem inconformada com a sociedade e com as normas impostas, sem necessitar de um braço ao seu lado para obter o seu reconhecimento. Estas suas características juntamente com outras cruciais para o seu “Destino” como rainha e governadora do Chile, permitiram-lhe com bravura e sabedoria prosseguir com os seus objetivos sem nunca se ter sentido prisioneira de alguém. O seu amor por Rodrigo de Quiroga era diferente do desejo ardente que sentira por Juan de Málaga e da paixão nutrida por Pedro de Valdivia, era maduro, alegre isento de conflitos. Fora acusada de ações obscenas e de ter enfeitiçado, como se de uma bruxa se tratasse, com maior relevância Pedro de Valdivia para que este fizesse o que queria, tal como acontecia com todas as que desafiavam as normas impostas por um mundo de homens.
A totalidade destas 342 páginas foram descritas com perfeição tal que nos permitiu, a nós leitores, ter a amabilidade ou a experiência inédita de mergulhar nas conquistas e nos horrores dos Descobrimentos. Através de Inés Suaréz presenciámos a escravatura constante dos “yanaconas”, a guerra persistente entre os “huincas” e os “mapuche”, o clima etéreo de Cuzco, as civilizações que lá habitavam, as amizades estabelecidas com humildes amigos e mais “asquerosos” inquilinos. É difícil o sentimento de indiferença aquando da leitura enriquecedora e esclarecedora.
Transforma-nos em cidadãos conscientes e com um sentido de justiça cada vez maior.
Concluindo, a leitura deste livro que me permitiu uma outra compreensão da história tão semelhante à portuguesa, foi e continua a ser um desencadear de curiosidade e inconformismo.
Que nunca nos esqueçamos de brilhar.
Bruna Santa

Adorei... Brilhante