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O relógio da primavera


Num banco de jardim observamos o mundo, em toda a sua plenitude, em todas as suas dimensões, formas e cores. Meticulosamente, apreendemos, inferimos e concluímos os distintos e insólitos quadros de crescimento e renovação. Cuidadosamente, compreendemos a multiplicidade das texturas e aromas que perpassam o núcleo terrestre.

Controlo o impulso, delineadamente colocado como isco para a imortalidade. Das vibrações do universo concluo uma única sina. Um único caminho. Mas de tantos brotarão ramificações. Encaro a vida como uma grande árvore centenária. Pede, proclama. Intensifica o seu pranto, de ave, de desespero, de humildade. Sente-se inutilmente grande e insignificante perante tamanha ação humana.

Nós somos os “todos poderosos”. Somos os incólumes seres terrestres. Procuramos, ambicionamos, queremos e temos. Só resta tempo. Só perdemos a vontade, a oportunidade e a necessidade. Mas, perante esta contrariedade entre o ser e o parecer, devolvo ao ser humano a sua inquestionável característica. A sua propriedade incutida durante o seu nascimento e que perdurará até ao seu fim. Escasso.

Incansável.

A Humanidade avança, mas já não pula, nem acende a chama.

O Sonho resume-se à indecisão.

Fatal.

Porém, desde quando é que o servo se subjuga de livre vontade após constatar a sua condição, na sua perspetiva, injusta?

Se pode recusar as suas origens, também poderá recusar o direito à vida, básica e plena.

O Relógio tropeça, depois anda, de seguida corre e, um dia voará. Com ele irá a Primavera. Nela o tempo. Já entorpecido. Já fatigado. Já morto pelo criado.

Paradoxalmente, ninguém se exalta, ninguém demonstra, ninguém age.

O tempo corre, um dia ninguém se lembrará, uma vez que dele nada restará.

Resultamos de uma ramificação de uma árvore centenária, milenária, talvez. Que interessa? O tempo tem os seus dias contados e a ação humana também.

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